Por Ronaldo Nóbrega
Editor Sênior Justiça em Foco
Hoje, na estreia do espaço Poder em Foco, não poderia deixar de iniciar com um tema de grande relevância — um gesto emblemático de gestão pública que ilustra bem o tipo de assunto que pretendo trazer neste espaço: decisões que ajudam a entender melhor o Brasil, sob múltiplas perspectivas e em diversos temas que influenciam diretamente a vida pública e institucional do país.
Enquanto diversas unidades da federação enfrentam desequilíbrios fiscais crônicos, o Distrito Federal adota uma estratégia rara no atual clima político nacional: antecipar-se à turbulência com racionalidade e disciplina. O governador Ibaneis Rocha(foto) assinou o Decreto Nº 47.386, que contingencia R$ 1 bilhão em despesas orçamentárias, estabelecendo um marco de gestão que entende austeridade não como sinônimo de retração, mas como fundamento do desenvolvimento sustentável.
A medida foi classificada pelo secretário de Economia, Ney Ferraz, como “meramente preventiva”. Isso diz muito. A arrecadação, segundo ele, segue em ritmo saudável — mas isso não foi visto como justificativa para a complacência. Pelo contrário: a prudência fiscal foi mobilizada como garantia de equilíbrio até o fim do exercício financeiro, num movimento que antecipa ajustes em vez de reagir às emergências.
O decreto suspende, temporariamente, reestruturações de carreiras, criação de cargos e novas negociações salariais, preservando apenas as reposições por vacância em áreas essenciais. Mais do que cortar, o governo escolhe calibrar. Aquilo que já foi acordado com os servidores será mantido, incluindo a última parcela do reajuste linear de 18%, a ser paga em julho — sinal de que responsabilidade fiscal não significa quebra de compromissos.
O texto também veda autorizações para diárias, horas extras e passagens, ao passo que determina uma revisão imediata dos contratos administrativos, com meta de redução mínima de 5% nos valores atualizados. Há, ainda, uma diretriz clara: preservar a continuidade dos serviços à população e evitar qualquer interrupção. Isso distancia a iniciativa de um arrocho desestruturado e a posiciona como um exercício de refinamento da máquina pública.
Há uma lógica clara por trás dessas decisões. O governo distrital quer reorganizar prioridades, revisar contratos e fortalecer a capacidade de resposta com base em dados e projeções reais. O próprio Ferraz afirma: “Não vamos deixar de prestar serviços. Queremos apenas garantir a qualidade dos gastos”. Em outras palavras, a administração escolhe governar com critérios, não com impulsos.
Do ponto de vista institucional, o decreto ancora-se na Lei Orgânica do DF e na Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas sua força política vai além do respaldo jurídico. Ele representa uma mensagem firme aos servidores, à população e ao setor produtivo: o DF está comprometido com uma gestão que respeita limites, honra acordos e impõe a si mesmo os freios que tanto evitam aplicar.
A introdução de medidas como a prova de vida de aposentados e a revisão dos benefícios previdenciários, a serem supervisionadas pelo Instituto de Previdência dos Servidores Públicos (Iprev/DF), amplia o escopo da austeridade para além da folha corrente, atingindo passivos estruturais que costumam ser ignorados.
Ibaneis Rocha não apenas administra um orçamento: Ele sinaliza, de maneira clara, que equilíbrio fiscal é um pré-requisito para qualquer projeto de desenvolvimento duradouro. Sua decisão de contingenciar R$ 1 bilhão não nasce da escassez, mas da lucidez. Num Brasil onde a regra tem sido gastar primeiro e ajustar depois — quando possível —, o governador do Distrito Federal aponta uma direção inversa: ajustar agora para crescer com consistência.
Austeridade, nesse contexto, não é um fim em si. É o solo firme sobre o qual se constrói um Estado que funcione. E isso, para Ibaneis Rocha, parece estar muito claro.
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