
Informe JF é uma coluna do portal Justiça em Foco assinada por Ronaldo Nóbrega, jornalista, memorialista e ex-consulente do Tribunal Superior Eleitoral. Autor da Consulta nº 1.185, que deu origem à Emenda Constitucional nº 52/2006 e assegurou a autonomia partidária no Brasil.
“Quando o Estado entra no jogo do povo, o risco é transformar arrecadação em desgaste de imagem. O digital amplifica o que a sociedade percebe como incoerência.” Alek Maracajá, presidente da Ativaweb.
A frase resume com precisão o dilema da “Bet da Caixa”. O governo tenta vestir o projeto com o manto da modernização financeira, mas o que se impõe é a sensação de que o Estado resolveu apostar contra sua própria reputação.
Um governo que se apresenta como defensor dos vulneráveis não pode lucrar com o vício dos mesmos. De um lado, o Planalto proíbe beneficiários do Bolsa Família e do BPC de jogar; de outro, a Caixa, sob o comando de Carlos Vieira, homem do Centrão, lança sua própria casa de apostas. O discurso da proteção social desmorona diante da prática mercantil.
Os números reforçam a percepção pública. Em apenas dois dias, a Ativaweb registrou 891 mil menções ao tema, 81,4% delas negativas. Não é ruído digital, é rejeição moral. O cidadão identifica o contraste entre o discurso ético e a conveniência política e reage com desconfiança.
A Caixa Econômica Federal não é uma empresa comum. É o rosto do Estado na esquina de cada cidade, guardiã da poupança popular e dos programas sociais. Quando o Estado decide jogar, não arrisca apenas dinheiro, arrisca credibilidade.
A “Bet da Caixa” não é apenas uma plataforma de apostas; é uma metáfora do governo que se perde na fronteira entre moral e pragmatismo. Modernizar não é banalizar. Arrecadar não é explorar. A aposta, neste caso, é política e o prêmio pode ser a perda da confiança pública.