ENTREVISTA E DEBATE

Exame da OAB: ‘O presidente Bolsonaro está na contramão da história’, avalia Leonardo Campos

Da redação (Justiça Em Foco) por Mário Benisti. Foto: OAB-MT - 04/02/2019
 

A equipe do Justiça Em Foco iniciou uma série de entrevistas com presidentes de sucursais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para comentar sobre a possibilidade de o Exame da OAB ser extinto, idealizado pelo Presidente Jair Bolsonaro. A primeira foi realizada com Délio Lins, presidente da OAB/DF.

Na sequência, conversamos com Leonardo Campos, responsável pela Seccional da OAB em Mato Grosso (OAB-MT). Para o presidente que é totalmente contrário ao posicionamento de Bolsonaro sobre o Exame da OAB, a prova traz consigo a proteção de toda a sociedade, por garantir que o profissional está amplamente qualificado para defender seus direitos.    


Veja a seguir:

Justiça Em Foco: Como o senhor encara esse posicionamento do Presidente da República em querer acabar com o Exame da OAB?
Leonardo Campos:
Com preocupação! O presidente está na contramão da história. Hoje estamos vivenciando a instituição do exame de proficiência em outros conselhos de classe. O Exame da OAB e os exames de proficiência, de uma forma geral, são uma garantia mínima de se colocar à disposição da sociedade um profissional com capacidade técnica para atender à sua demanda, em especial, na advocacia. Ou seja, o profissional que passa pelo crivo do exame de Ordem representa uma garantia para a sociedade de que está apto a defender direitos tão importantes do cidadão.

 

Justiça Em Foco: A forma como o Exame da OAB é aplicado hoje precisa de modificações? Se sim, quais?
Leonardo Campos:
Não diria modificações, mas o exame precisa estar sempre sendo estudado e aprimorado para que esteja em sintonia com o avançar do Direito no Brasil.

 

Justiça Em Foco: Como o senhor classifica o Exame da OAB hoje? Ele pode ser considerado fácil?
Leonardo Campos:
Hoje o Exame avalia a capacidade mínima. Aquele que se dedicou, durante a graduação, aos estudos, não terá dificuldade nenhuma em ser aprovado, pois ele afere a capacidade mínima.

 

Justiça Em Foco: Hoje, como o senhor avalia o cenário para a profissão de advogado? É a única profissão de elevado impacto social? 
Leonardo Campos:
A advocacia, em todas as regiões desse imenso Brasil, tem espaço. O bom profissional, que estuda, é ético, dedicado, tem espaço no mercado sempre, de modo que ainda tem um mercado muito fértil a ser explorado no país.

Temos várias profissões de impacto social, não cabe a mim tecer comentário sobre elas. A Advocacia é uma profissão essencial à administração da Justiça, conforme estipulado na própria Constituição Federal. A Justiça denota a manutenção o Estado de Direito. O Poder Judiciário é o poder da pacificação social e como o cidadão chega a essa pacificação? Somente por meio da advocacia. Advogados e advogadas são indispensáveis à pacificação social à medida que, para ter seu direito reconhecido, o cidadão precisa, necessariamente, de um profissional da advocacia.

 

Justiça Em Foco: Caso a prova fosse aplicada durante a graduação do estudante, seria uma opção para melhorar o desempenho dos estudantes de Direito e das instituições de ensino?
Leonardo Campos:
Já temos a oportunidade de o estudante realizar o exame a partir do 9º semestre, isso é aplicar o exame durante a graduação. Ele está sendo aplicado em sintonia com aquilo que está sendo apresentado nas instituições de ensino, pelo menos em tese, ou seja, o que se cobra no Exame da Ordem é o que o aluno vê durante o curso de Direito.

 

Justiça Em Foco: Se o projeto de Bolsonaro for colocado em prática, como deverá repercutir no mundo jurídico? De quais maneiras as Seccionais deverão se manifestar?
Leonardo Campos:
Somos veementemente contra. A OAB-MT já tem posicionamento formado, inclusive, respaldado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que garantiu e reconheceu a constitucionalidade do exame justamente pelo viés de que a prova é uma garantia, um instrumento de defesa da sociedade que terá à sua disposição um profissional capacitado.

 

Justiça Em Foco: Sobre o custo do Exame, o senhor acredita que precisa se reajustar a realidade dos estudantes?
Leonardo Campos:
O Exame é feito por uma instituição respeitada no país que é a Fundação Getúlio Vargas e isso tem um custo. O Exame é nacional, então temos um custo médio, de diferentes regiões do Brasil, chegando-se a esse patamar, portanto, acredito que esteja adequado.