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O uso da IA nas eleições e a ameaça da desinformação

redacao@justicaemfoco.com.br / Foto: Divulgação. - 17/08/2024
 

Christianne Pimenta e Marcia Exposito *

Imagine que você está sentado em sua sala de estar, navegando pelas redes sociais, quando de repente se depara com um vídeo extremamente convincente de um candidato político. A mensagem parece real, é bem articulada e toca em questões que são importantes para você. No entanto, o que você talvez não saiba é que aquele vídeo foi criado por uma inteligência artificial (IA) e pode nem ser verdadeiro.

A inteligência artificial tem entrado com força nas eleições, mudando completamente o jogo político. Por um lado, ela permite que campanhas sejam mais eficientes, direcionadas e pessoais, alcançando visitantes com mensagens que realmente ressoam. Por outro lado, essa mesma tecnologia pode ser usada para enganar, criando notícias falsas que se espalham rapidamente.


A IA está revolucionando as eleições, tanto para o bem quanto para o mal, podendo ajudar campanhas a se conectarem melhor com os participantes, mas também representando ameaças quando usada para disseminar a desinformação.

A utilização de inteligência artificial possibilita a segmentação precisa de participantes com base em dados demográficos, comportamentais e psicográficos. Algoritmos avançados analisam grandes volumes de dados para identificar padrões e prever comportamentos eleitorais, resultando em campanhas altamente personalizadas que abordam diretamente as preocupações e interesses dos participantes. Além disso, ferramentas de IA automatizam diversas tarefas administrativas e operacionais, liberando tempo e recursos para atividades estratégicas. Os seus bots podem gerenciar interações com participantes, responder a perguntas frequentes e organizar eventos de campanha, tornando o processo eleitoral muito mais eficiente.

A análise de sentimento, impulsionada por IA, permite que as campanhas monitorem e avaliem a opinião pública em tempo real, ajustando as suas mensagens e estratégias de acordo com o feedback instantâneo das eleições nas redes sociais e outras plataformas.

Por outro lado, um dos maiores riscos associados ao uso de IA nas eleições é a produção e disseminação de desinformação. Algoritmos sofisticados podem criar notícias falsas que parecem extremamente reais, manipulando informações para influenciar a opinião pública. Deepfakes, vídeos falsificados criados com IA, representam uma ameaça particular, pois podem enganar até mesmo os espectadores mais críticos.

A segmentação e personalização de mensagens, embora eficazes, também podem ser usadas para manipular participantes, com campanhas direcionando desinformação específica para grupos vulneráveis, exacerbando divisões sociais e influenciando injustamente o resultado das eleições. Tudo isso pode criar um ambiente de desconfiança e polarização.

Neste cenário, importa ainda destacar que o uso excessivo de IA e a disseminação de notícias falsas podem minar a confiança pública no processo eleitoral. Eleitores se tornarão céticos quanto à veracidade das informações que podem receber e a integridade das eleições em si. Essa desconfiança é prejudicial à democracia e pode conduzir a uma menor participação eleitoral.


Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil anunciou a adoção de medidas contra candidatos que fizerem o uso indevido de IA nas campanhas eleitorais, principalmente em casos de disseminação de notícias falsas. As multas por infrações relacionadas ao uso de inteligência artificial variam de R$ 5 mil a R$ 25 mil. Estas medidas visam coibir o uso de tecnologias que possam distorcer o processo eleitoral e garantir a lisura das eleições.

Para combater a disseminação de notícias falsas, a mesma tecnologia de IA pode ser utilizada para detectá-las. Algoritmos estão sendo desenvolvidos para identificar notícias falsas com base em diversos critérios, como padrões de linguagem e fontes. Esses sistemas podem analisar rapidamente grandes volumes de conteúdo, ajudando a identificar e neutralizar notícias falsas antes que se espalhem.

Além da tecnologia, é fundamental educar o público sobre como identificar notícias falsas. Programas educacionais podem ensinar habilidades críticas para avaliar a veracidade das informações online e compreender as técnicas usadas para manipular opiniões.

Finalmente, combater as notícias falsas requer um esforço conjunto. Governos, empresas de tecnologia e organizações da sociedade civil precisam colaborar para criar políticas e ferramentas eficazes. Isso inclui regulamentações mais rígidas para plataformas de mídia social e o desenvolvimento de tecnologias para rastrear e remover conteúdos falsos rapidamente.

Desta forma, podemos avaliar que a IA tem o potencial de transformar positivamente as eleições, tornando-as mais eficientes e conectando melhor os candidatos. No entanto, a produção e a disseminação de desinformação representam um desafio que precisa ser abordado com urgência. Combinar tecnologias de detecção de notícias falsas com exercícios educacionais e regulamentações atribuídas é essencial para garantir que a IA contribua para eleições mais justas e transparentes, em vez de minar a confiança pública no processo democrático.

Christianne Pimenta, Especialista em inteligência artificial e gestão estratégica, Mestranda em planejamento e desenvolvimento, professora e instrutora de cursos sobre IA, inovação e gestão, Chief Innovation Officer na B-IA.07

Marcia Exposito, Advogada, Especialista em Proteção de Dados, Sócia no BPrivacy, Co-founder da B-IA.07

 

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